Reserva de Jacarenema, Barra do Jucu – Vila Velha-ES
Criada em 2003, a Reserva Ecológica de Jacarenema reúne mangue, restinga e mata atlântica, mas ainda permanece sendo um território vítima do abandono do poder público, sendo marcado por conflitos socioambientais. Mesmo diante de tantos alertas e protestos realizados ao longo dos últimos anos – com destaque para a tradicional “Descida Ecológica do Rio Jucu”, que ocorre desde 1988 –, nota-se a ausência de projetos e ações para recuperação e preservação do Rio Jucu e também do Parque Municipal de Jacarenema. A degradação da área se deve a vários fatores, como caça e a pesca predatória, extração ilegal de areia, invasões, especulação imobiliária e despejo de esgoto sem tratamento. (SATHLER, 2017).
O principal problema que afeta a qualidade da água do Rio Jucu é a poluição difusa, causada pelo “despejo in natura de esgoto e escoamento superficial de agrotóxicos nas áreas cultivadas na região médio-alta da bacia”. Ao adentrar no perímetro urbano, o rio recebe “canais de drenagem do município de Vila Velha, onde não há separação da rede pluvial e da rede de esgoto”. (SATHLER, 2017, p. 26).
Cabe ressaltar que a Rodovia do Sol, finalizada em 1977, divide a unidade de conservação e facilitou a especulação imobiliária na região, aproximando a malha urbana do Parque. “Antes disso, apenas a Barra do Jucu, uma antiga vila de pescadores centenária e hoje um bairro rico em folclore e festas populares, fazia contato com Jacarenema, no limite sul da unidade de conservação. (SATHLER, 2017, p. 228).
Petrus Lopes, sócio-diretor do Instituto Jacarenema de Pesquisa Ambiental, afirma que múltiplos atores sociais afetam a segurança ecológica da reserva. Há uma pressão infringida por populações vulneráveis, que extraem recursos naturais do parque, como extração de areia, tráfico de animais silvestres e pesca indevida. Há também a ameaça de empresas imobiliárias, que devido à especulação, visam ocupar áreas protegidas para a construção civil. Na falta de políticas públicas que possam mediar os conflitos, a ONG Instituto Jacarenema atua para a proteção do rio Jucu, que tem sua foz na reserva, além da fauna e da flora de seu entorno. O ativista ambiental aponta que para além das ameaças diretas, há uma negligência por parte do poder público que persiste em relação a diversas unidades de conservação do município de Vila Velha, não só em Jacarenema, mas também nos parques do Morro do Moreno, Mantegueira e na restinga da orla das praias: falta de infraestrutura, segurança e fiscalização adequada.
Além das ameaças que a reserva e o rio Jucu sofrem no espaço do parque devido à disputa por território e por recursos naturais, Conceição (2011), ao estudar a qualidade da água em alguns pontos da bacia, descobriu que a poluição e o lançamento de esgoto não tratado por toda a extensão do rio contribuíram para a perda do equilíbrio ambiental e implicava em potenciais riscos para a saúde da população. A pesquisadora descobriu que o trecho final do Rio Jucu era o mais afetado, sendo encontrados valores altos de coliformes totais, termotolerantes, enterococcus, bactérias heterotróficas e metais pesados, contaminação atribuída aos efluentes lançados no rio sem tratamento.
Existem também fatores naturais que dependem pouco de fatores humanos, mas que em consequência de seus efeitos afetam a reserva e as comunidades próximas. É o caso, por exemplo, da erosão e inundação causados pela elevação do nível do mar na região. Pesquisadores dos programas de pós-graduação em Geografia e em Oceanografia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo conduziram um estudo no qual descobriram que até 2017 uma área equivalente a 40, 24 hectares do terreno da reserva, o equivalente a 11,62% do total, já haviam sido perdidos, o que ocasionou perda de habitat de diversas espécies, a salinização da água doce, a perda de áreas recreativas e turísticas do Parque e conflitos na ocupação de terrenos por moradores no entorno da unidade de conservação. (PINHEIRO et al, 2018).
Holz (2012) também já chamava a atenção para a questão da destruição dos rios frente aos processos de urbanização, tomando o Rio Jucu como estudo de caso. Apesar de sua grande importância socioeconômica, o Rio Jucu “encontra-se atualmente num estado de degradação preocupante, sofrendo graves impactos ambientais desde as cabeceiras até a foz, que ameaçam a qualidade e a quantidade de suas águas” (HOLZ, 2012, p. 196). A autora constatou que toda a região do entorno do Rio Jucu, em Vila Velha, possui “alto grau de fragilidade ambiental, onde estão inscritas diversas situações preocupantes, como a ocupação irregular em situação precária por população de baixa renda principalmente por meio de invasões, a ocupação de Áreas de Preservação Permanente e áreas de risco, a presença de atividade industrial e a intenção por parte do Poder Público Municipal de incentivar essa atividade, a precariedade em infraestrutura urbana, etc.” (HOLZ, 2012, p. 197).
Fontes:
CONCEIÇÃO, Juliana Melo da. Biomonitoramento espacial e temporal da qualidade da água de uma bacia hidrográfica do corredor central da mata atlântica. 2011. p. 67. Dissertação (Mestrado) – Mestrado em Ecologia, Programa de Pós-graduação em Ecologia de Ecossistemas, Universidade Vila Velha, Vila Velha, ES. 2011. Disponível em: https://repositorio.uvv.br/bitstream/123456789/711/1/DISSERTA%C3%87%C3%83O%20FINAL%20DE%20JULIANA%20MELO%20DA%20CONCEI%C3%87%C3%83O.30.09.2011.pdf. Acesso em: 20 set. 2022.
HOLZ Ingrid Herzog. Urbanização e impactos sobre Áreas de Preservação Permanente: o caso do Rio Jucu – ES. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Vitória, ES. 2012.
PINHEIRO, Carlos Alberto Kuster et al. Flood and erosion potential of the municipal natural park of Jacarenema, Vila Velha-Es. Revista Brasileira de Geografia Física, Recife, v. 11, n. 2, p. 547-559, 2018. Disponível em:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe/article/view/234172/29382. Acesso em: 20 set. 2022.
SATHLER, Marcelo. Jacarenema, a arena. Um parque redutor de desastres urbanos sob risco de urbanização. Vitória, ES: Pedregulho, 2017.